Não vou de forma alguma contestar o Barcelona, que nos últimos 3 anos, desde que Pep Guardiola assumiu o comando técnico, é o melhor time de futebol do planeta. Disparado.
Não vou contestar Lionel Messi. O argentino é o melhor do mundo, também, há 3 anos. Não sei se é disparado, mas é o melhor. Papo para outro post.
Mas vejo uma “comoção” geral da imprensa pela tal “filosofia do Barcelona”.
Um “oba-oba” de todo processo da formação de jogadores que existe no clube. Acho que, existem alguns fatos, que neste momento, ninguém cita.
Parece que o clube catalão “descobriu a roda”. E não descobriu há apenas 3 anos, mas sim há muitos anos, desde o final da década de 80, quando o ex-craque holandês, Johan Cruijff, assumiu como treinador do Barça.
Fica parecendo que o Barcelona só joga com os talentos criados na base, desde que Cruijff implementou sua metodologia de revelação de jogadores. Menos.
Com certeza o ex-treinador tem muitos méritos no sucesso atual do time, mesmo 15 anos após ter deixado o comando da equipe.
Ele incentivou a criação de vários centros de treinamento para a base. Deixou um legado importante, principalmente em relação aos técnicos dos jovens atletas.
Esses fazem muita diferença, porque incentivam os novos talentos a jogar de forma inteligente e rápida.
O time de Cruijff na década de 90, tetracampeão espanhol e campeão da Champions League em 92, de fato, era composto em sua maioria, por espanhóis e jogadores formados na base do Barça. Mas no início da década de 90, era permitido apenas 3 jogadores estrangeiros, contando com os europeus.
Depois da “fase Cruijff” o Barcelona não continuou com sua filosofia de posse de bola e de revelar jogadores da base. Essa idéia vendida é uma falácia.
O clube revelou bons jogadores sim, mas não foi uma máquina, formada essencialmente por jogadores da Catalunha ou espanhóis.
Quando Cruijff assumiu o Barcelona, o Real Madrid havia vencido 5 vezes seguidas o Campeonato Espanhol.
Ele estava começando um trabalho de implementação de seus métodos, do futebol total, posse de bola, toques rápidos, que geraram 4 títulos seguidos (de 90 à 94) e uma CL.
Dois anos depois, foi mandando embora. Foi o técnico que mais tempo permaneceu no comando do time, 8 anos.
Em 95, depois da Lei Bosman e da afirmação da União Européia, foi abolida a restrição da utilização de jogadores nascidos nos países que compunham a UE, pelos clubes do continente.
Com isso, as principais equipes (leia-se, os mais ricos) formaram grandes seleções mundiais, como vemos hoje.
A Inter de Milão foi campeã da CL, na temporada passada, sem um jogador italiano no time titular.
O Barcelona foi um dos times que investiram em jogadores estrangeiros, e talvez, por influência de Cruijff, contratou uma legião de holandeses.
O time ficou de 94 à 98 sem ganhar o Campeonato Espanhol, quando, sob o comando de mais um holandês, Louis Van Gaal, foi bi-campeão nas temporadas 97/98 e 98/99.
A estrela do time era Rivaldo, melhor jogador do mundo pela FIFA em 99, mas a base era holandesa, que haviam atuado no Ajax, treinado por Van Gaal.
Poucos eram os talentos criados na base. Para se ter uma idéia, o destaque espanhol do time era Luis Enrique, ex-ídolo do...Real Madrid.
Depois do bi-campeonato o Barcelona ficou mais 5 anos sem conquistar o Espanhol. Durante toda essa fase, fracassou em vencer a CL, título que o rival Madrid conseguiu 2 vezes (3, se contarmos o título de 98).
Em 2003, outro holandês assumiu o comando do Barcelona, Frank Rijkaard. A missão dele era trazer de volta ao Barcelona, o futebol que conquistou o mundo no início da década de 90.
Ainda não foi nesse período que o clube voltou a investir nos jogadores da base. Muitos dos atuais titulares já estavam no time principal, ou prestes a estrear.
Frank Rijkaard comandou o time entre 2003 e 2008
Mas o time bi-campeão espanhol (04/05 e 05/06) e campeão da CL em 2006, era formado na maioria por jogadores “estrangeiros”, como: Rafa Márquez, Zambrotta, Van Bronckhorst, Edmilson, Deco, Giuly, Eto'o, Thiago Motta, Ronaldinho e Larsson. Das categorias de base, titulares, eram Valdés, Puyol e Oleguer. Xavi, Iniesta e Messi ainda iriam se firmar nos anos seguintes.
A idéia que se vende, é que, no título da Champions League de 2006, o Barcelona era repleto de jogadores da base, com grande posse bola, resultado da “filosofia do clube”. Isso não é verdade.
Depois do bi-campeonato, o Real Madrid ganhou dois títulos seguidos (06/07 e 07/08) e no fim da temporada 07/08, além de vencer o Campeonato Espanhol por antecipação, goleou o Barça por 4 a 1.
Frank Rijkaard estava com os dias contados no comando do time. Ronaldinho, Deco e outros, também seriam “degolados”.
Havia chegado à hora de Guardiola, o ex-pupilo de Cruijff.
Pep Guardiola desde 2007 era treinador do Barcelona B, uma espécie de time juniores do clube.
O treinador conhecia bem jogadores da base e a partir disso, reformulou o elenco, apostando em Messi como grande protagonista do time (substituindo Ronaldinho do posto de camisa 10).
Além da valorização de jogadores criados no clube, Guardiola fez contratações “pontuais” como Daniel Alves, Keita e Piqué.
Sobre a compra do zagueiro Pique, valeu uma consideração.
Se algum time brasileiro revelasse um jogador e nas categorias de base “perdesse” este jogador para outro clube, e anos depois, desembolsasse milhões para comprá-lo de volta, seria duramente criticado pela imprensa. Foi o que aconteceu com o “exemplo-de-organização-e-formação-de-jogadores” o Barcelona.
Piqué foi criado no clube e saiu antes de ser profissional. Foi comprado por mais de 5 milhões de euros.
Que belo exemplo de profissionalismo com jogadores da base! Este fato, ninguém leva em conta, na hora de elogiar o super processo de base do Barca.
Aguardem, porque este ano o clube vai desembolsar muito dinheiro, para comprar Cesc Fabregas, formado nas canteras (nome dado as “escolinhas” de futebol do clube), que se profissionalizou no Arsenal.
Guardiola o técnico mais vitorioso da história do clube
Com este “novo grupo” Guardiola armou um time rápido, inteligente, que preenche cada espaço do campo.
No seu time, como em todos os outros, existem jogadores defensivos e ofensivos, cada um com sua função.
Mas o futebol não é previsível e não é eito por computadores.
A inteligência tática do time, faz que, quando um zagueiro sobe ao ataque, outro irá preencher aquele espaço, mesmo que seja o atacante.
Os fatores que fazem o Barcelona de Guardiola ser o melhor do mundo ultrapassam os preceitos de um time que sabe o que fazer está ou não com a posse de bola.
São jogadores que se identificam com o clube, que amam a camisa.
É um clube com uma estrutura para treinos invejável e um estádio para quase 100 mil pessoas, e está sempre cheio.
Além da cereja do bolo, um craque comparado a Pelé e Maradona.
Por isso tudo, o Barcelona formou um time inesquecível, que hoje, nos faz pensar, até onde ele chegará.
Será quantas vezes campeão do Campeonato Espanhol? Da Champions League? Do mundo?
Guardiola na sua primeira temporada conquistou TUDO. Hoje ele conquistou 10 títulos em 14 disputados.
Como disse no início do post, não há o que contestar. São os melhores. Hoje, o Barca é um exemplo de como time deve ganhar jogos.
O sucesso da equipe é tão grande, que o Barcelona é base, e inspiração, da seleção campeã do mundo, a antiga “amarelona” Espanha.
Mas a idéia da “filosofia” do clube é “meia verdade”. Temos uma fase iniciada em 88, por Johan Cruijff e depois um abismo de mais de 10 anos, para o que se tornou a máquina comandada por Guardiola.
Claro que tudo que foi plantado, está sendo colhido agora.
Mas, acredito muito que esse time, é fruto de uma geração muito talentosa, com um grande craque. Isso acontece raramente.
Como o Atlético e Flamengo do inicio da década de 80. Não é fruto de filosofia. Por isso, não acho que o Barcelona será o melhor do mundo eternamente.
Messi não será, o que é, por mais 5 anos. Xavi já tem 31 anos. Iniesta 28. Pedro, Bojan, Afellay são jogadores medianos, que funcionam, dentro do time espetacular que o Barcelona é.
Não credite na “filosofia”, o sucesso atual do Barcelona.
Não acho que nenhum time precisa repensar o trabalho, por causa dos títulos de outro.
Afinal, o que seria do Barcelona, com o mesmo trabalho de base, se clube estivesse na China?
O que importa, e o que sempre importará, é o conjunto dos jogadores.
São eles que empurram a bola pra rede, e fazem gols, que ao contrário do que disse Parreira em 93, não é um mero detalhe.